domingo, 1 de novembro de 2009

Depoimento do ex-presidente SYLVIO KELLY

DEPOIMENTO DO EX-PRESIDENTE DO FLUMINENSE FOOTBALL CLUB, DR° SYLVIO KELLY DOS SANTOS

DR° SYLVIO KELLY: - Todo mundo sabe, eu sempre fui oposição ao Horcades. Não votei nele a primeira vez, na segunda vez não fui nem votar. Porque eu estava fazendo todo esforço para que a oposição se unisse para tentar derrotá-lo. Infelizmente, não consegui. E ele fez um acordo com uma das facções do clube e tinha uma boa margem junto aos sócios. Mas se a oposição estivesse unida, tinha certeza que nós teríamos vencido. Na primeira vez ele (Horcades) foi eleito por 30 e poucos votos por cento e na segunda vez, ele não alcançou os 50%. E eu sempre ajudei o clube. Porque eu não estava ajudando a administração Horcades, estava ajudando o Fluminense. Quem acompanha o dia-a-dia do Fluminense, sabe que eu estava ajudando principalmente lá em Xerém, que eu acho que é ali que está o futuro do Fluminense. E vários pedidos que tinha feito a ele (Horcades) e que ele ficou de atender. Não atendeu.

Em 28 de março de 2005, eu entreguei a ele uma carta numa reunião do Conselho Consultivo. Ele (Horcades) já era presidente do clube e estava começando a sua administração, na qual eu solicitava que o Fluminense ajudasse a fechar a obra que estava sendo feita em Xerém. Para evitar que o sol, a chuva, as intempéries, prejudicassem o que já estava construído. Orçado em cerca de R$ 80 mil reais. E ele (Horcades) prometeu enfaticamente que ia terminar a obra de Xerém. Disse: “Acredite no seu presidente! Nós vamos inaugurar essa obra no dia 29 de maio de 2005, num jogo contra o Duque de Caxias, na estréia do Felipe, no Fluminense”. O jogo não aconteceu, o Felipe foi contratado pelo Fluminense e o telhado está lá até hoje.

E o Fluminense não teve R$ 80 mil reais para cobrir um telhado. Então, um detalhe: esta obra foi aprovada pelo Conselho Deliberativo. Então, não é obra do Sylvio Kelly, não é obra de oposição. É uma obra do Fluminense, ratificada pelo Conselho Deliberativo. Este foi o primeiro. Depois, nós ajudamos em Xerém, na parte financeira do clube. Havia uma promessa de repassar para Xerém 2% do que o Fluminense pudesse conseguir com essa ajuda. E isso nunca foi passado para Xerém. E finalmente, quando eu estava fazendo um esforço para que o Fluminense fizesse um convênio com um clube do exterior para terminar a obra de Xerém.

E consegui que o Dr° João Havelange ajudasse o clube. A única exigência que o Dr° João Havelange fez, foi que eu ficasse como responsável pela aplicação do dinheiro. Porque ele confia em mim, nós somos amigos há 65 anos. Fizemos a construção de Xerém dessa maneira. Nós arrecadamos de doação quase U$ 2,5 milhões de dólares. O Fluminense gastou U$ 100 mil dólares apenas nessa obra. O João Havelange era o presidente da comissão, eu era o sub-secretário, o Moacir era o tesoureiro, Luiz Antonio de Almeida Braga, George Summer, que faleceu recentemente. Nós éramos da comissão. E nessa obra não sumiu um centavo. O dinheiro entrou e o Fluminense não gastou nada. Então, eu já tinha essa experiência.

Eu consultei, levei ao Dr° Horcades essas exigências do João e ele concordou. E nós começamos o trabalho. Esse trabalho já vinha sendo feito por mim. Numa viagem que fiz o ano passado (2008) aos Estados Unidos, com minha mulher, tentei fazer um convênio com um clube de Seattle, chamado Seattle Sounders, que assumiu a “major league” nos Estados Unidos. Não conseguimos porque minha viagem ocorreu em setembro e eles estavam com dificuldades porque houve aquele estouro da bolha econômica nos Estados Unidos. E talvez tenha sido uma desculpa deles e não quiseram fazer. Quando eu voltei fiz esse entendimento junto com o Dr° Havelange.

E nós então fizemos um projeto. O projeto foi feito pelo Mauro Carneiro que é Vice-Presidente do clube (Projetos Especiais), pela Drª Margareth, que é arquiteta e por mim. Nós três fizemos esse projeto partindo daquilo que eu tinha apresentado nos Estados Unidos, naturalmente com um desenvolvimento maior, porque lá fizemos em 48 horas. E aqui nós tínhamos todo tempo para fazer. Tanto que nós tivemos de janeiro, que foi a primeira reunião que tive com o grupo, até junho, para ficar pronto. Depois que eu levei o plano ao Dr° Havelange, junto com o Mauro Carneiro e a Margareth. A Margareth fez uma exposição do que era o projeto. E o João, então, ficou encarregado de procurar situar esse trabalho junto às pessoas que ele conhece. Então, a primeira pessoa (clube) que ele mandou foi para o Milan da Itália, porque o representante do Milan no Brasil é amigo dele. E ele trocou correspondência com o rapaz. E o rapaz disse que ia para Milão e ia levar o projeto, que o projeto estava muito bem feito. Depois ele disse que no primeiro contato, eles se mostraram interessados. E ficaram de desenvolver.

Então, o Dr° João Havelange remeteu também o mesmo projeto para o presidente da Federação da Arábia Saudita de Futebol, que é o Príncipe Faissal, amigo do Dr° João, porque o Dr° João era amigo do pai dele, que era o Rei Faissal já falecido. E o João como é uma pessoa muito inteligente, dividiu a proposta em duas partes. O Milan seria o término da construção do Centro de Treinamento. Eu não me recordo os valores, mas está no projeto. Não lembro se eram U$ 20 milhões de dólares ou U$ 30 milhões de dólares, mais ou menos isso aí. E para a Arábia Saudita, ele propôs que a seleção da Arábia Saudita viesse para o Brasil. E que, quando viesse ao Brasil, fazer a pré-temporada e treinasse lá em Xerém, por U$ 20 milhões de dólares. O valor saudita era um valor certo são U$ 20 milhões de dólares. Com o Milan não me lembro, é mais de 20, menos de 30. Então se saísse, seria uma beleza para o Fluminense.

E nós estávamos jogando com o prestígio do Dr° João Havelange que conhece todo mundo. Ele não vai entrar numa proposta que ache que não vai ter viabilidade. E ele me disse: “O Sylvio, eu posso viajar com você. Nós vamos a Milão. Quando você for encontrar com o príncipe”. O príncipe é membro do Comitê Olímpico Internacional, até votou na escolha do Rio de Janeiro. Eu tenho certeza que ele votou com o Dr° João. O Dr° João disse: “Quando você estiver com o príncipe, eu vou lá para encontrar com ele. Porque nós vamos conversar lá fora”. Então, eu estava programado que a reunião seria agora nessa de Copenhague. E eu iria lá para conversar com ele. Eu tenho todas as cartas que foram trocadas, tudo. Eu mostrei as cartas todas pra ele. Um dia o João me diz: “Sylvio, se nós formos à Itália, leva o presidente (Horcades) com você. Porque depois ele vai dizer que não autorizou. E você leva ele com você”. Eu disse: “Se nós formos vou chamá-lo para ir também”. E o Havelange disse: “E se precisar eu pago a minha passagem, agora o Horcades, que ele pague a dele ou o Fluminense pague a dele. Você não precisa, que você paga a tua que eu já sei”.

Um dia eu estou chegando ao escritório às sete horas da manhã, a hora que eu chego e um Conselheiro do Fluminense me encontrou. Ele também chega cedo e disse: “Você sabia que o Dr° Horcades está em tratativas com um grupo italiano para apresentar aquele projeto para Xerém? E o negócio já está encaminhado, porque falam em R$ 3 milhões de reais de começo, R$ 500 mil reais por mês”. Eu disse: “Eu não sei de nada, não me falaram nada”. Cheguei ao escritório, telefonei para o Mauro Carneiro primeiro. O Mauro me confirmou que havia tratativas. Eu reclamei dele, porque é que ele não tinha me falado, já que nós estávamos juntos no projeto. Liguei para o Carlos Henrique Ferreira que estava comigo desde o início. Carlos Henrique, antes de eu ir para os Estados Unidos, ele já sabia. Falei com ele também que não me comunicou. Aí liguei para o Dr° Horcades e exigi uma reunião para esclarecimentos, o que estava havendo.

A minha preocupação é não deixar o Dr° João numa situação difícil. Porque ele continua com as tratativas e o dr° Horcades fecha o convênio com esse grupo italiano. O João ia ficar muito mal na fotografia, junto com o Milan e principalmente com o príncipe Faissal que é amigo pessoal dele. Nesta reunião, foi uma reunião tensa, porque o Dr° Horcades, como sempre achava que tinha razão, que não tinha prejuízo nenhum. E que apareceu uma oportunidade e ele tinha que fazer. Eu falei pra ele (Horcades): “Porque você não me avisou??? Eu queria só que você me avisasse. E eu diria: João espera um pouco, vamos ver se sai essa proposta. Se não sair, você continua, faz a tratativa com o Milan e o príncipe Faissal”. E (Horcades) virou para mim, e eu fiquei muito triste, muito surpreso, quando ele disse: “Eu estou tratando isso sigilosamente. Isso é um sigilo”. Como se eu e o Dr° João não fossemos capazes de mantermos sigilo em relação ao Fluminense. Tanto que nós estávamos trabalhando com o Milan e com a Arábia Saudita e pouquíssimas pessoas sabiam que nós estávamos nessas tratativas.

Então, eu fiquei aborrecido com ele (Horcades) e reclamei porque ele tinha... Aí, foi à gota d’água mesmo. E o Horcades disse: “E você quer saber de uma coisa, isso do Dr° João não vai sair nunca, porque ele nunca ajudou o Fluminense”. Com uma declaração dessas do presidente do Clube, eu sai e fui embora. No dia seguinte, mandei uma carta pra ele sobre o que tinha acontecido. Ele nunca me respondeu essa carta. No dia seguinte, peguei esta carta e remeti uma carta minha para o Dr° João, esclarecendo o que tinha acontecido. E nós saímos de qualquer tentativa de acordo nesse assunto. Para surpresa minha depois eu fiquei sabendo que esse grupo, era um grupo italiano. Diziam né? Não sei! Nunca ouvi sobre nada. Afinal, a gente ouve falar no Clube. Que era ligado ao Leme Futebol Clube, que estava tudo certo. Que eles já tinham ido lá, em Xerém. Eles fizeram um movimento pra fechar o negócio. E o Horcades inclusive me falou: “Eu já assinei um pré-contrato. O Departamento Jurídico já está tratando. E o contrato vai ser assinado dentro de duas semanas”.

Isso já passaram talvez três meses. Depois o Mauro Carneiro me comunicou que o negócio não tinha sido aprovado, não tinha ido pra frente e o Fluminense ficou sem qualquer das possibilidades. E eu entendo que se o nosso movimento de impeachment do Horcades for vitorioso, eu acredito que possa convencer o Dr° João Havelange a voltar ao assunto. Desde que, a pessoa que assumir a presidência do clube nos autorize sem interferência.

Nós não somos os donos da verdade. Mas eu acho que o Dr° João tem todas as possibilidades. Ele demonstrou agora na vitória do Brasil. Os jornais acompanham esse movimento do João. Desde o ano 2000, que ele está tentando. Começou pequenininho, nunca esmoreceu. O Brasil perdeu 4, 5... E ele sempre à frente. E agora ele conseguiu! Nós conseguimos! O jornal outro dia falou que em 20 votos (que Havelange teria conseguido para o Rio de Janeiro). Duvido! Duvido que fossem só 20 votos.

Esse trabalho não é no dia da eleição. Esse trabalho começa muito antes. E o João me confidenciou que, quando o Brasil apresentou a candidatura, um dos sheiks árabes de um emirado, o procurou e pediu que ele votasse no Emirado. Ele disse: “Não posso votar no Emirado, que o meu país e a minha cidade é candidata”. Então, eles fizeram um acerto que sempre se faz: “Se aminha cidade passar e você não, você me apóia. Se a sua passar e a minha não, eu te apóio”. Como eles não passaram, pressupõe-se que, o sheik tenha votado com o João. E ele sempre me dizia de pessoas do relacionamento dele e a esperança dele. Eu fui visitá-lo dias antes dele viajar, com um amigo lá do clube. Um rapaz que eu fui apresentar pra ele. E ele nos comentou que tinha mandado 100 cartas, uma para cada membro do Comitê Olímpico Internacional. Uma carta pessoal no idioma pátrio. É um trabalho!

Essa é a pessoa que o Fluminense (Horcades) diz que nunca o ajudou. Se eu mencionar o que o João ajudou o Fluminense que eu sei, fora o que não sei, a gente vai perder uma semana falando. Então, vem o presidente e faz uma afirmação dessas? Uma afirmação gratuita, totalmente vazia de conteúdo. E prejudica o Clube! Então, eu não posso aceitar. Fora, as outras coisas que ele fez. A venda dos ingressos da final da Taça Libertadores foi uma coisa terrível. As declarações que ele faz na imprensa. Hoje mesmo, o Renato Maurício Prado (jornalista do jornal “O Globo”) fala: “O parlapatão do presidente do Fluminense”. Isso não pode!

Os presidentes do Fluminense sempre foram pessoas seríssimas, sempre. E o Dr° Horcades passou uma atitude completamente diferente daquilo que sempre foi. Então, por isso que a gente não pode apoiar esse senhor. E nós estamos fazendo o possível pra ver se a gente muda. É uma posição traumática? É! Mas o nosso Estatuto, infelizmente, não dá outra solução para nós. O único remédio que tem é o impeachment. Não tem outro remédio. Se alguém me apontar alguma outra medida, o afastamento... Não existe! Só existe o impedimento! Por isso, é que o movimento partiu me convenceram a aderir. Eu já era um adesista em potencial. Eu aderi, fiz a redação da petição judicial. Fui o primeiro a assinar.

Nós tivemos 69 assinaturas, é um número razoável. O Dr° Horcades foi para o jornal e disse que 15, é um número redondo, iam retirar a assinatura. Até agora eu não vi as 15 retirarem assinatura. O processo está andando e nós vamos tentar ter êxito nessa missão, que todos os tricolores que tenho falado, nas ruas... E todos dizem: “Esse impeachment tem que sair!!!” As pessoas que tenho consultado, os Beneméritos que não vão ao Clube. Uma delas me disse: “Sylvio, vocês deviam ter feito isso há mais tempo! Talvez o Fluminense não estivesse na situação em que está com a dívida crescendo cada vez mais”. E coisas que são feitas no Clube também, as vendas dos jogadores da maneira como é feita, preços baratíssimos. O Conca vai para o Fluminense trocado por três jogadores promissores. Depois esses mesmos jogadores tiveram o resto do passe transacionado com a Traffic. E o Fluminense perdeu os três jogadores. O Conca não é nosso jogador. É um jogador emprestado. Então, só bobagem! Não sei de onde ele (Horcades) tira tanta capacidade de fazer tanta coisa errada???

Saudações Tricolores

3 comentários:

  1. Fico feliz de ver este depoimento de nosso ex-presidente Sylvio Kelly. Pela leitura, vemos que é um tricolor comprometido com a grandeza do Fluminense. Bom ver isso, pois, em seu mandato, houve problemas, circo nas Laranjeiras, ameaça de impedimento e título só na última temporada.
    João Havelange é uma figura excepcional, que nos orgulha a todos os tricolores. Infelizmente, há muita gente por aí que repete essa estória de que o nosso Presidente de Honra nunca faz nada pelo FFC. Sempre considerei esse julgamento equivocado.
    Tenho receio em relação ao processo de impeachment, pois José de Souza pode assumir. Se ele assumir, o grupo que esteve presente nos rebaixamentos volta a ter força.
    Por outro lado, Peter pode vencer.
    Que o melhor cenário prevaleça e que o Fluminense se livre, de vez por todas, desse padrão horroroso de administração, baseado no amadorismo e incapaz de ver que o maior patrimônio do Fluminense é sua torcida, o que só temos por causa do futebol.
    Saudações de um torcedor e associado tricolor.

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  2. Infelizmente sendo essas as circunstancias.. Fico feliz de saber mais sobre a história do nosso flu.. =(

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  3. Fico tipo.irritadoo com o presidente HORCADES,esse cara tenque sair da presidencia do Flu todo ano é a mesma coisa, nos não ficamos com 10% do elenco anterior,isso é uma vergonha, jogadores vendidos a preço de banana

    SAI HORCADES

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